O ciclo é de quatro em quatro anos, podendo ser ativado para dois, o que para tanto exige tempo, esforço e dinheiro, o último em especial, escasso em certas praças. Corresponde a este ciclo, algumas espécies bem curiosas da família “Politiké”, proveniente de uma região antiga, conhecida pelo nome de “Interesses desconhecidos”, localizada na península dos Balcãs, de tempos em tempos, levantam revoadas e ocupam os céus das cidades, campos, praças públicas e afins, algumas após uma longa hibernação.
São espécies que convivem com os humanos desde a pré-história. Relatos contam que são originarias da Grécia antiga, se espalharam por todo mundo por causa do alto nível de adaptação. Desde então fazem parte do ecossistema, sendo primordiais para o mundo moderno.
Por essas características de adaptação e sobrevivência, podem transportar uma enorme variedade de bactérias, algumas benéficas, como os lactobacilos, e outras extremamente letais. Sua principal fonte de alimentação e reprodução é o cérebro humano. Em épocas de reprodução e sobrevivência costumam injetar um líquido anestésico que geralmente controla o hospedeiro.
Especialistas afirmam que as espécies originárias da pré-história se restringiam a dois ecossistemas: “polis” e “tikos”, os quais podemos traduzir para os dias de hoje como “polis”, viver na cidades; “tikos” promovendo o bem comum de todos. Em suma, as Politikés originárias mantiveram-se imutáveis, são inofensivas como as abelhas Jataí, trazem muito benefício à saúde com o que produzem e são importantíssimas. Infelizmente seu número populacional está bem reduzindo, provocando o desequilíbrio no ecossistema.
Devido às interferências humanas, algumas espécies de “Politikés” sofreram mutação genética. Dessa mutação surgiram mais duas subespécies: “politikos paraquedistium” e “politikos oportunistium”. À primeira vista se parecem muito com as originárias, dóceis e inofensivas, tornando-se difícil sua identificação. No entanto, podem ser tão nocivas quanto letais, podendo levar o hospedeiro, a viver numa espécie de transe ad eterno, sem nunca alcançar outra vez a realidade. Os principais sintomas são: sentimento de recompensa imediata, processo alucinógeno e ações destrutivas.
As estatísticas apontam sobre as condições de sobrevivência das paraquedistiuns e oportunistiuns, se não liberarem a toxina no momento certo para o hospedeiro realizar alguns comandos, as chances diminuem de forma exponencial. Caso tenham êxito, conseguem se proliferar livremente, chegando em casos mais avançados, aos níveis de pandemia, tornando o ambiente hostil para a sobrevivência humana.
No caso de pandemia, os antídotos e tratamentos adequados são menos precisos e surtem menos efeitos por causa da evolução alucinógena. E não há registros ainda de que alguns povos conseguiram sair do estado pandêmico. Para tanto, faz-se necessário ater-se aos antídotos e tratamentos precoces, que mesmo sendo à base de conhecimento, não pode ser qualquer conhecimento, muitos sem a devida observância dos componentes, acabam intensificando a potência das toxinas. Por outro lado, quando os antídotos são bem administrados, preventivo e precocemente, faz o paciente voltar a ver a realidade como é, ser resistente às toxinas, e melhor, começa a identificar as espécies mutantes.
É importante salientar que as Politikés não são extinguíveis pela forma como os povos vivem hoje. Caso contrário, uma variante ainda maior, menos populosa e extremamente perigosa, como a Madurensis ditatorium, poderia ocupar o lugar. Uma das opções viáveis seria cultivar as Politikés originárias, para irem ocupando cada vez mais espaços e lugares, a fim de trazer um equilíbrio e uma organização mais saudável para com os humanos. Aquela mesma organização sublime promovida pelas leis que regem o universo. E aqui eu me dou a liberdade de um pleonasmo: tão onisciente, tão onipotente e tão onipresente.