Na mitologia grega, quimera é um ser místico perigoso caracterizado pela aparência híbrida de dois ou mais animais e a capacidade de lançar fogo pelas narinas. Oriunda de Anatólia, parte da Turquia correspondente à península da Ásia Menor. O tipo físico da criatura surgiu na Grécia durante o Século VII a.C.. A versão mais conhecida da lenda a descreve como um monstro assustador, fruto da união entre Equidna, metade mulher, metade serpente; e o gigantesco Tifon, duas criaturas de aparência terrível a apavorante. Foi também na Grécia que as primeiras noções de política nasceram sob os pensamentos de Sócrates, Platão, Aristóteles, os questionamento sobre organização e meio de intervenção estatal prática na sociedade e no mundo.
Esse processo durou séculos para chegar ao que conhecemos hoje sobre repartição dos Três Poderes. Passou primeiro pela fase do Absolutismo cujo poder do Estado era centralizado na figura do Monarca, para consolidar após a Revolução Francesa por meio das propostas de Locke e Montesquieu. A ideia de descentralização de poder, dividindo os Poderes em três partes: Executivo, Legislativo e Judiciário independentes, a fim de evitar tiranias.
No entanto, pode acontecer de um poder invadir as competências de outros poderes, tal ato é chamado de usurpação. E só acontece se um dos poderes tiver a noção do seu poder sobre os outros, a certeza da vitória e/ou apoio do exército e/ou do judiciário. Último exemplo é a nossa vizinha Venezuela, Hugo Chávez extinguiu os poderes Legislativo no ano de 1999.
E assim como a mitologia, a política também gera suas quimeras de estimação quando determinados poderes se agigantam sobre os outros. Tornando-se em monstros implacáveis, jorrando fogo contra a Constituição e a justiça, destruindo a ordem do país.
Aqui no Brasil, essa quimera nasceu no fatídico ano de 2016, quando Dilma impechmada, teve seus direitos políticos preservados por uma manobra de Ricardo Lewandovisk, após acatar o pedidos da ala da esquerda para desmembrar o processo de impeachment, dos direitos políticos, os quais geraram duas votações diferentes, contrariando o artigo 52 da Constituição federal.
Os direitos mantidos da Dilma abriram três precedentes perigosos ao processo democrático e imparcial da Constituição e justiça, porque feriu a lei constitucional sob uma espécie de “reparação de danos”. 1Qualquer político processado por crime de responsabilidade, pode recorrer a essa decisão, pedindo pela manutenção dos seus direitos políticos, 2aliado à sensação de impunidade sobre a brecha de cometer crimes e não perder os direitos políticos. E 3sob a nova forma de executar a lei ao malabarismo das convicções subjetivas à margem da Constituição e das decisões monocráticas.
Sob a nova forma de ver fazer justiça, a qual não precisa estar necessariamente dentro da Constituição, qualquer pessoa, mais precisamente político, dependendo do viés poderia ser agraciado com esse recente detalhe. A falta de reação do Congresso, e a omissão do Senado que até ajudou a preservar os direitos políticos da Dilma, incitou a quimera a avançar e crescer contra a Constituição e opositores para livrar Lula da cadeia, o malabarismo judicial sob o condão de fazer justiça.
Como não bastasse a quimera crescer, alimentando-se da deterioração da Constituição, a gana dos militantes e Partidos de esquerda em requisitá-la para terem os desejos realizados, deixava-a cada vez mais forte para jorrar sua lava incandescente de inconstitucionalidade sobre os opositores. O Livro Inquérito do Fim do Mundo explica como a quimera avança sobre os poderes, opositores, consumindo a liberdade de expressão, a democracia, os diretos estabelecidos e a ordem, até daqueles que a alimentam.
O último parlamentar que teve os direitos consumidos pelo fogo do monstro inquisitório, foi Carlos Jordy. Na manhã desta quinta-feira, 18 de janeiro, acordou em sua casa com a Polícia Federal fazendo buscas e apreensões. A operação mira desvendar quem financiou e quem incentivou as manifestações do 8 de janeiro.
Todo monstro age puramente por instinto, e sua única função é pela sobrevivência. Ainda que tenha algum resquício de inteligência do que outrora foi, a percepção sobre si mesmo é muito pequena e rasa para compreender o que se tornou. E hoje continua se fortalecendo com a ida de um político comunista para ocupar uma cadeira suprema, e um ex supremo ocupando um cargo no governo. Quanto mais o tempo passa, quanto maior for seu crescimento e o terror que espalha, mais difícil é encontrar um antídoto eficaz para trazê-lo de volta à sobriedade, à razão ao menos para ver o que se tornou.