
Há poucos dias, a esquerda tentou descriminalizar o aborto na Argentina. Chegou a ganhar no embate entre deputados, mas foi barrada no senado. Enquanto isso, no Brasil, o mesmo tema é discutido, sendo que, diferente do que ocorreu no país vizinho, o palco do debate não é o legislativo; acontece em pleno Supremo Tribunal Federal, onde ministros, em ampla maioria indicados pela esquerda, levam o judiciário a atuar fora de sua competência, numa afronta ao Estado Democrático de Direito. Vemos então aqueles que deveriam ser os guardiões da Constituição, que declara no caput do seu Artigo V ser inviolável o direito à vida, arrombar a atribuição de outro poder da República numa tentativa evidente de legislar contra a Carta Magna. No mundo inteiro, o esquerdismo aponta suas garras, e tenta, dia após dia, muitas vezes com sucesso, legalizar a prática abortista. Por que tanto empenho? Para entender o que, de fato, move a esquerda, faz-se necessário, primeiramente, definir com exatidão o que é aborto, assim como, refutar os principais embustes esquerdistas, divulgados tanto na grande mídia quanto em sites e em perfis de redes sociais.
Debater um tema sem definir exatamente do que se trata não é nada razoável; quem o faz corre o risco de não chegar a uma conclusão consistente, devidamente fundamentada. No caso do aborto, dada a gravidade do assunto, não ter uma definição exata é uma temeridade. A esse respeito, a própria palavra “aborto” (ou expressões como “interrupção de gravidez”, “planejamento familiar”, “procedimento”, “direito reprodutivo”, “pro-choice” e tantas outras, também usadas quando o assunto vem à cena) não é adequada ao verdadeiro objeto pautado, pois amiúde, e muitas vezes propositadamente, torna-se eufemismo, e esconde o que se trata de fato, que é matar gente. Quando alguém afirma ser favorável à legalização do aborto, está, conscientemente ou não, dando anuência a essa atrocidade. Partindo dessa premissa, quem, em sã consciência, e contrariando o próprio instinto de preservação da espécie, seria favorável a tirar a vida de seu semelhante como solução válida para o que quer que seja? A esquerda sabe que, assim do nada, convencer pessoas a matarem-se umas as outras não é tarefa fácil. Por isso mesmo, cuida de desviar o foco, induzir o interlocutor ao erro. Usando de sofismas os mais ardilosos (além de constrangimentos via ditadura do “politicamente correto”), militantes dessa causa abjeta tem conseguido fazer crer que o aborto seria uma prática moralmente válida, ou até mesmo transformar esse ato horrendo em causa nobre. É assim, dessa forma, que esquerdistas têm ganhado adeptos e defensores no mundo inteiro.
Um dos muitos ardis dos abortistas consiste em afirmar que um embrião não seria um ser humano, mas tão somente um “amontoado de células”, de forma que a “prática do aborto” nessa fase se resumiria a descartar essas “células indesejáveis” do corpo da “enferma”; como se nós, humanos, começássemos na vida, digamos assim, como doença venérea. Um pouco mais, informam até a CID desse delirium tremens, causado pelo “relativirus sinistrae”. A ciência, entretanto, esclarece que o óvulo, antes mesmo de se juntar a um espermatozóide, foi liberado do ovário, ou seja, já não faz parte, sequer, do corpo da mulher. Depois disso, um embrião leva de uma a duas semanas para, livremente, descer da trompa de Falópio e se fixar no útero, quando só então mãe e filho estabelecerão, em perfeita saúde, uma conecção de troca, onde este último receberá nutrientes, de modo apenas a garantir a vida deste novo ser – algo análogo ocorre quando um bebê, aninhado nos braços da mãe, suga-lhe o peito em busca de alimento. Assim, um embrião não é um amontoado de células amorfas a se multiplicar no corpo de alguém; ao contrário, se desenvolve de forma ordenada e autônoma, em ambiente adequado a isso, sendo esse o primeiro estágio vital de qualquer indivíduo humano. Por outra, não há na face da Terra ser humano algum que não tenha passado pela fase zigoto, da mesma forma como não se conhece mulher que tenha dado a luz a uma patologia, portanto, embrião não é doença, embrião é vida, e vida humana.
Outra mentira muito divulgada pelos abortistas é a do clichê “para entender a vida basta entender a morte”. Argumentam os militantes que a medicina aponta como morto um paciente que esteja numa UTI sem apresentar atividade cerebral, mesmo que respire por aparelhos, e concluem que “para a ciência, um ser humano teria que ter atividade cerebral, o que também não ocorre até a décima semana de gravidez”. Nesse sofisma, os abortistas encadeiam o argumento de forma a levar o interlocutor a acreditar que o médico não atestou uma morte cerebral, e sim que o paciente teria se transformado em algo outro que não humano, passando a descartável. Ocorre que a medicina, em nenhum momento, atesta que o indivíduo na UTI deixou de ser um ente humano; se afirmasse tal coisa estaria a cometer uma aberração. Mais que isso, se houvesse alguma chance, mínima que fosse, daquele indivíduo voltar a apresentar sinais vitais, jamais o mesmo poderia ser dado como morto: isto seria assassinato. Em seus primeiros dias de existência, um ser humano apenas AINDA não apresenta atividade cerebral, algo que, líquido e certo, acontecerá, tudo a seu tempo, nada por acaso; da mesma forma como um recém-nascido ainda não fala, ainda não anda, ou uma criança ainda não tem todas as aptidões de um adulto, sem contudo deixar de ser indivíduo humano em função disso. Por ser assim, equiparar um feto saudável a um paciente com morte cerebral para então concluir que o primeiro não seria “uma vida humana”, atropela a lógica e o bom senso.

Outro estratagema muito utilizado por abortistas consiste em afirmar que um indivíduo só passaria a existir após o nascimento. Nesse caso, apoiam-se os ativistas, ironicamente muitos deles céticos ateus, não mais, como diriam, “na ciência”, mas nas Escrituras Sagradas, em Gênesis, 2,7: “E formou o Senhor Deus o homem do pó da terra, e soprou em suas narinas o fôlego da vida; e o homem foi feito alma vivente”. Concluem então os abortistas: “Sem fôlego, logo, sem vida”. Esquecem que aqui o que temos é uma alegoria que versa sobre a origem da raça humana, e não sobre a concepção de cada indivíduo. Não há no texto bíblico referência a ventre materno, mas ao pó da terra e ao sopro divino; a sermos, diferentemente de todos os demais seres viventes, moldados a imagem e semelhança do Criador e providos de alma.
Os apologistas da morte vão longe em sua dialética erística, e muitas vezes conseguem o intento: a Islândia já permite o aborto até o último dia de gestação em casos de fetos com, por exemplo, síndrome de Down (nas clínicas onde acontece tal perversidade, chegam ao cúmulo, verdugos travestidos de médicos, de oferecer aos seus “clientes” uma espécie de souvenir do grotesco – um cartão contendo uma oração e as pegadas daquele que, por torpeza de seus algozes, acabou de ser sacrificado). Esse tipo de abortismo foi festejado por progressistas mundo afora, que apontam o país nórdico como prestes a se tornar uma sociedade sem a síndrome (prestes, por não conseguir matar todos os fetos, ora por falta ou falha de diagnóstico, ora porque algumas mães discordam). Aplaudem assim a prática abortista a serviço da eugenia, onde se pretende suprimir uma anomalia eliminando o paciente. Há também quem dê a essa barbárie conotações de caridade, afirmando que alguém com problema congênito seria um peso para a família, para a sociedade e para si próprio. É comum aos “iluminados” da esquerda, arautos da teoria do “mundo perfeito”, decidir o que é bom ou deixa de ser para outrem, e nesse caso decretam até mesmo se alguém deve viver ou morrer. Entretanto, o tenor Andrea Bocelli, cego devido a problemas de saúde enfrentados pela mãe quando o carregava no útero, discorda dessa ditadura da felicidade. É fácil achar no Youtube depoimento do artista, vencedor de cinco BRITs e três Grammys, em que ele declara que sua mãe foi aconselhada a abortar porque “o bebê nasceria defeituoso”.
A apologia ao macabro não para por aí: Alberto Giublini e Francesca Minerva, docentes da Universidade de Melbourne, são autores do artigo “After-birth abortion: why shoud the baby live?” (Aborto pós nascimento: por que o bebê deveria viver?), publicado, pasme, no Journal of Medical Ethics, um periódico, como o próprio nome indica, sobre ética médica. Aqui o eufemismo “aborto” é usado para defender o assassinato inclusive de já nascidos, com até dois anos de idade, isso porque, segundo Giublini e Minerva, um bebê não teria consciência de si, condição sine qua um indivíduo não poderia ser considerado humano. Temos então a filosofia de boteco travestida em ciência, e contra a vida. Numa coisa, entretanto, a dupla de celerados tem razão: segundo eles, “não há diferença relevante entre um feto e um bebê”. De fato, não há, uma vez que ambos são humanos em estágios diferentes de vida, apenas. Isto, porém, deve servir para preservar a vida de ambos, e não para ampliar a gana assassina, como querem os pseudocientistas.
Mas o que, realmente, diz a ciência? Um fenômeno é considerado científico quando se repete indefinidamente, sempre com o mesmo resultado. Sendo assim, falácias esquerdistas à parte, não é de hoje que a ciência (do latim scientia = conhecimento) observa e conhece o fenômeno natural no qual, no exato momento em que um espermatozóide se funde a um óvulo surge um novo ser humano. Desde sempre, a união dos gametas de dois indivíduos macho e fêmea da espécie Homo sapiens resulta em um terceiro indivíduo também Homo sapiens. A isso se dá o nome de concepção. Há milênios a humanidade conhece tal fenômeno, e mesmo quando não havia microscópio capaz de visualizar um espermatozóide ou um óvulo, já se compreendia que, como resultado da cópula, o esperma depositado na vagina de uma mulher em período fértil dá origem a um novo ser. O Antigo Testamento (registro datado aC, portanto) narra a história de Onã, que praticava o coito interrompido como método anticoncepcional (vem dai o termo “onanismo”). A ciência moderna, agora com a ajuda de aparelhos de alta tecnologia e precisão, confirma o que já se sabia há milênios, e acrescenta que esse novo indivíduo tem, inclusive, DNA próprio desde a concepção. Conforme esclarece a ciência, cada célula do corpo humano contém 23 pares de cromossomos (células diploides), com exceção do espermatozóide e do óvulo (células haploides), que contém em seu núcleo apenas um cromossomo de cada tipo. Assim, as células de reprodução não exercem nenhuma função até encontrarem o gameta do outro sexo, quando então se completam, e é exatamente por isso que o novo ser passa a ter carga genética única. Isto é ciência. Tentar definir onde começaria a vida de cada indivíduo humano com base em teorias, ideologias ou opiniões as mais diversas e não no fenômeno biológico em si, não tem, absolutamente, nada de científico. Assim, a menos que ocorra acidentalmente, de forma espontânea, aborto é homicídio doloso, com intenção de matar, com diversos agravantes, entre os quais o da vítima ser inocente e indefesa.

Outra falácia, agora no campo do Direito, é a do chavão “meu corpo, minhas regras”, alardeado pelo movimento feminista, onde a mulher teria a prerrogativa de, a qualquer tempo, se recusar a manter um feto em seu útero, uma vez que este último lhe pertence. Temos aqui a negação da alma feminina, a Eva arrependida a debochar da própria natureza, a transformar o privilégio de preservar a vida em ameaça de morte. Note que, nesse discurso tresloucado, já não se põe em pauta o feto ser ou não um indivíduo humano, mas apenas que o indivíduo em questão não teria direito de ocupar o útero materno. Tal argumento, desumano e descabido, esbarra no princípio de que o direito à vida é superior a qualquer outro, de modo que o direito da mulher sobre o útero não pode se sobrepor ao direito natural do feto. O “meu corpo, minhas regras”, supra-sumo do egoísmo, crueldade e inconsequência, é correlato a alguém considerar o próprio filho, criança sob sua guarda, um estorvo, e então tirar-lhe a vida e lançar o corpo pela janela, sob o argumento de que a residência não pertenceria à vítima. Seria o “minha casa, minhas regras”. Por algo desse tipo, Alexandre Nardoni foi condenado a 31 anos, 1 mês e 10 dias, e Anna Jatobá a 26 anos e 8 meses de reclusão.
A sanha das feministas não para por aí. Por falta de argumento lógico que sirva ao propósito repugnante, muitas vezes partem para a censura pura e simples, e contra um opoente do sexo masculino, afirmam que só a mulher, que seria parte interessada por ser provida de útero, poderia discutir o assunto, e que só a grávida poderia decidir o que fazer. Ora, temos aqui dois pontos: o primeiro é que a mulher não é um ser hermafrodita, o segundo é que parte verdadeiramente interessada nesse caso é o feto, seja ele de qualquer dos dois gêneros (o feminismo se esquece de defender a vida de mulheres em estágio de nascituras) e não a mãe que, não desejando o filho, ainda assim o fez. Por conseguinte, é injusto, imoral e inaceitável, isto sim, a quem já foi parido, atentar contra a vida de quem ainda se encontra no útero.
Outro sofisma da esquerda é afirmar que mulheres que moram em periferias são mais propensas ao aborto ilegal, porque começariam mais cedo a praticar sexo e não se preocupariam em usar preservativos ou anticoncepcionais. No Brasil, lançam o argumento nesses termos: “Ao contrário das ‘louras de classe média’, que ‘abortam em segurança’, as ‘negras da favela’ fazem o ‘procedimento’ em clínicas clandestinas sem estrutura adequada, correndo risco de morrer”. Assim, defende-se o aborto como questão de “justiça social”, na base do “nós contra eles”, via luta de classes e racismo dissimulado, onde quem se oponha seria, por tabela, contra “mulheres pobres e negras”. Ora, mas quem é contrário ao aborto “legal” obviamente é contrário a ilegalidade, portanto em momento algum se pretende colocar a vida de mulher nenhuma em risco, seja ela rica ou pobre, ou pertencente a raça A, B ou C. O que se advoga é garantir o direito à vida do feto, seja este rico ou pobre, homem ou mulher, negro, branco, pardo, etc. Além disso, essa defesa da vida não é exercida exclusivamente por “brancos burgueses”, mas por pessoas de todas as parcelas da sociedade. O fato é que não há aqui um dilema, no qual teríamos que escolher entre quem morre e quem vive. Inclusive, é bom que se diga, ainda que fosse legalizado, aborto sempre implica em risco e isso abrange todas as classes sociais, então utilizar tal barbaridade como método anticoncepcional, como querem os esquerdistas, além de indecente, não é defender a vida ou a saúde da mulher, muito pelo contrário. Importante salientar que, ao tentar justificar o aborto como questão social, pretende-se atender as “interessadas” através do SUS, realocando recursos que deveriam ser destinados à saúde da população e a salvar vidas. Assim, pacientes que hoje estão pelos corredores dos hospitais públicos entre a vida e a morte teriam que esperar ainda mais por atendimento, simplesmente porque médicos, contrariando o juramento de Hipócrates, estariam atarefados em tirar a vida de outrem, e salas de cirurgia estariam ocupadas durante o “procedimento”.
Ainda nesse viés de “justiça social”, abortistas consideram que matar um feto, em casos onde a mãe, hipoteticamente, não teria condições de criar o rebento, seria uma forma de evitar o sofrimento de quem nasce e cresce nessas condições, e acrescentam que alguém criado em tal ambiente se transformaria, provavelmente, em um criminoso. Veja a canalhice: pretende-se aqui exigir garantia social de felicidade para quem é gerado, tomando como base, senão uma piedade falsa, o pressuposto absurdo de que a criminalidade estaria atrelada à condição social do indivíduo, mais que isso, estabelecer pena de morte para inocentes por um crime que sequer aconteceu. No caso do Brasil, ironicamente, a pena capital se daria em um país onde tal inexiste, mesmo em caso de crimes hediondos. A título de curiosidade, deixo aqui uma pergunta a quem defende tal leviandade: se estatuido fosse tal parâmetro de garantia “moral/social” para alguém ter direito à vida, o filho de um descendente direto de escravos e uma lavadeira, a saber, o imortal da Academia Brasileira de Letras Machado de Assis, teria alguma chance ou seria mais um condenado por ser potencialmente infeliz e/ou criminoso? A lista de “réus” é extensa!

Esquerdistas recorrem a uma profusão de sofismas. Dá um livro. Os apresentados aqui são somente alguns dos mais usados. Quando todos caem por terra, quando falham todas as tentativas de convencer alguém de que tirar a vida de inocentes indefesos seria algo banal ou correto, esquerdistas então usam um derradeiro “argumento”: afirmam que quem é contra deveria, exatamente por isso, ser a favor da legalização, porque, segundo eles, isso diminuiria a incidência da prática repugnante. Alegam que, uma vez legalizado, a mulher interessada em matar teria acompanhamento de psicólogo, que tentaria demovê-la da ideia. Claro que legalizar um delito como forma de combatê-lo, ainda mais quando se trata de crime contra a vida, por si só já seria algo risível se não fosse execrável. Se essa moda pega… Quanto ao aborto, não existe sequer dados concretos sobre a incidência, uma vez que boa parte das ocorrências não chega a público. Entretanto, nos países em que foi liberado, ao contrário do que afirmam os abortistas, a carnificina tem aumentado desde a legalização. No Uruguai, seis anos após descriminalizado, o número de abortos cresceu 37%. Inclusive, nesses paises há casos de mulheres que, repetidamente, engravidam e matam o feto. Legalizar é incentivar a prática, na medida em que, por mais que na quase totalidade dos casos de aborto ilegal ninguém seja preso, da feita que já não haja legislação que proiba, quem intencione cometer tal loucura, estando agora sob o beneplácito da lei, passa a entender não haver nada de moralmente errado.
A esquerda cerra fileiras pró-aborto em várias frentes, infiltrando agentes em prol da “causa” nos poderes legislativo, executivo e judiciário (ultimamente, o STF está empenhadíssimo), escolas (públicas e particulares, do ensino fundamental à universidade), nas igrejas Católica (teologia da libertação) e evangélicas (Marina Silva, a pentecostal, comunista e relativista da REDE, praticou recentemente a filosofia de Pilatos, defendendo publicamente plebiscito sobre o assunto), na classe artística (remunerada regiamente via Lei Rouanet), na grande mídia (interessada nos cifrões do gigantismo estatal), em ONGs (financiadas com dinheiro público e/ou verba de metacapitalistas como George Soros), etc. Nos Estados Unidos, a Planned Parenthood, organização fundada pela feminista, racista e eugenista Margaret Sanger (ativista que também foi ligada à Klu Klus Klan), realiza em torno de 300.000 abortos e movimenta acima de US$ 1 bilhão anuais, isso em um país onde essa prática nefasta foi empurrada goela abaixo da sociedade, em 1973, via judiciário, na farsa que ficou conhecida como caso Roe vs. Wade. Ultimamente, o abortismo tem perdido força nos EUA em virtude do trabalho árduo de entidades pró-vida e de eleitores de direita, que reconduziram o Partido Republicano ao poder, mas ainda assim, a praga do abortismo no país ianque, mesmo se tratando de uma Confederação fundada sob os pilares do conservadorismo, está longe de ser vencida. Por que, afinal, a esquerda é tão obcecada pelo abortismo?
O polo político que prega o aborto é o mesmo que matou milhões e milhões de pessoas na antiga União Soviética, Alemanha nazista, Itália facista, China de Mao Tsé-Tung e em outras partes do planeta. Assim o fez, diretamente, seja em pelotões de fuzilamento, campos de concentração, câmaras de gás, ou mesmo de fome, por decreto, como foi o caso do holodomor ucraniano. Lembremos que toda essa carnificina visava a tomada e manutenção do poder totalitário, o que implica afirmar que os tiranos do passado teriam, friamente, matado mais ou menos pessoas, conforme conveniência e possibilidade. Esse modus operandi do poder pelo uso da força bruta precedida de discurso de propaganda (ditadura do proletariado marxista, nacional socialismo hitlerista, etc.), contudo, caiu em desuso. Atualmente, a revolução acontece de forma lenta e gradativa, via Guerra Cultural (ver artífices dessa nova estratégia, como Herbert Marcuse, György Lukács, Antonio Gramsci, Saul Alinsky), e visa sabotar a cultura ocidental, destruir a instituição da família e do cristianismo, tirar de cada indivíduo vínculos outros que não seja com o Estado. Importa perverter a moral judaico-cristã, que mantém a atual civilização ocidental de pé, romper com as tradições, e instituir um novo senso-comum na sociedade, orquestrado e moldado à ética estatal, onde o conceito do que é certo ou errado se resume ao que serve ou não à “causa”. Observe que, já há algum tempo, dentre a militância esquerdista em status de doutrinação mais avançado, muitos ativistas, quando convidados a protestos violentos, consideram algo perfeitamente natural utilizar os próprios filhos de colo como escudo contra a reação da polícia.
A esquerda atual ataca via fissuras da democracia. Chega ao poder entoando o canto da sereia do populismo, quando por diante passa a se utilizar de dinheiro público para subornar, corromper e ocupar espaços, agigantando cada vez mais o Estado, forçando então a vítima a pagar pelo veneno que a levará à morte, ou pelos grilhões que a manterão sob jugo. Alastra-se, a New Left “Soft Revolution”, por todo o corpo da sociedade, como um câncer, com vistas à hegemonia cultural que a conduzirá ao trono do absolutismo ad infinitum. Interessa a essa nova esquerda enclausurar cada indivíduo numa bolha de egocentrismo, mesquinhez e vulgaridade, construir uma sociedade de zumbis avessos às vicissitudes da vida, sem sentimento de amor ao próximo, sem poesia, sem coragem, sem heroismo, sem honra, preocupados tão somente em satisfazer os prazeres carnais mais comezinhos, que o Estado promete lhe garantir. Cito aqui o filósofo Christopher Dawson: “Se o homem se limita a uma existência animal satisfeita e pede da vida apenas o que tal existência pode dar, os valores mais altos da vida desaparecem de uma só vez”. Não cabe, em sua bolha, escrúpulos a esse novo “homo social”, que agora vaga por um mundo onde o merecimento não é levado em conta, e o dolo, conforme alerta o economista americano Thomas Sowell, é atemporal e coletivo: “Parece que estamos rumando em direção a uma sociedade onde ninguém é responsável pelo que faz, mas todos somos responsáveis por aquilo que outras pessoas fizeram, no presente e no passado”.
A esquerda sabe que o abortismo relativiza a vida, embrutece o ser humano, implode a empatia natural que nos une aos que nos rodeiam, aniquila até mesmo laços consanguíneos, e nos leva, em consequência, à solidão de não mais confiar em ninguém, a ser, então, presa fácil da alcateia. Eis o interesse, eis o motivo. Não importa, para progressistas e afins, quantos, entre fetos e grávidas (o esquerdismo induz as mulheres ao sexo sem prevenção, oferecendo o aborto, inclusive o ilegal, como solução para gestações não programadas), serão ceifados em decorrência do abortismo. Como sempre, para quem pretende a tirania, tudo é número, frio e calculado. Vale lembrar que, no duplipensar esquerdista, “direito” e “coerção” se confundem no mesmo objeto. Desta feita, quando estatistas outorgam, ao cidadão, o direito de matar inocentes pelo simples fato destes ainda estarem no ventre materno, a qualquer momento esse mesmo direito pode ser usurpado, e usado contra quem quer que seja, no útero ou fora dele, conforme disposição estatal, e sem pedir licença; “tudo para o bem da sociedade”.
No Brasil, assim como no resto do planeta, há duas facções na esquerda: a que sorri como hiena e a que rosna como lobo. Ambas trabalham pelo mesmo objetivo. Não à toa, nós brasileiros somos hoje obrigados a conviver com grupos clandestinos, que tem por prática a violência e o ataque sistemático ao direito de propriedade, como é o caso do MST e do MTST (o chefe deste último, por máximo acinte à democracia, é agora candidato à Presidência, e com campanha paga pelo contribuinte), sem que a esquerda sorridente, que atualmente ocupa o poder, esboce qualquer reação, isso quando não aplaude.
Nessa nova guerra, travada no campo minado do relativismo, faz-se imperarivo atentar para as palavras de um dos gigantes do conservadorismo, Russell Kirk: “O conservador pensa na política como meio de preservar a ordem, a justiça e a liberdade. O ideólogo, ao contrário, pensa na política como instrumento revolucionário para transformar a sociedade e até mesmo transformar a natureza humana. Na sua marcha em direção à utopia, o ideólogo é impiedoso”.